Estudos recentes do Grupo de Estudos em Manejo Integrado de Pragas (GEMIP) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) detectaram alterações da composição de espécies de lagartas da soja, com aumento da população e importância das lagartas-falsa-medideiras e das lagartas-pretas e redução da população da lagarta-da-soja, que por décadas foi a lagarta predominante na soja brasileira. No Rio Grande do Sul, nas safras 2007/08 e 2008/09, entre as lagartas-falsa-medideiras, já havia sido constatada a predominância de Rachiplusia nu, sobre Pseudoplusia includens, que se esperava fosse a mais comum.
Com base em amostragens de lagartas da soja efetuadas no Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, na safra 2009/10, se constatou estas alterações populacionais. No Rio Grande do Sul a lagarta-da-soja representou mais de 50% da população de lagartas e as lagartas-falsa-medideiras (agora predomínio de P. includens sobre Rachiplusia nu) e lagarta-preta (Spodoptera eridania) representaram 20% cada uma das espécies. Nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul houve menor ocorrência de lagarta-preta (entre 11% e 13%) e menor ocorrência de lagarta-da-soja. Nesses estados a lagarta-falsa-medideira (P. includens) variou entre 28% e 43% da população de lagartas da soja (Figura 1).
Esses dados, embora restritos a uma safra e aos estados do Sul e ao Mato Grosso do Sul, indicam uma alteração na composição de espécies e um crescimento populacional daquelas de mais difícil controle em soja. Tais alterações apontam para a sobrevivência das lagartas mais tolerantes aos inseticidas usados em soja. Possivelmente em muitos casos seriam necessárias doses maiores para controlar as lagartas-falsa-medideiras e Spodoptera eridania, do que para controlar a lagarta-da-soja.
O uso inadequado de doses de inseticidas por erro de identificação da praga-alvo ou por redução da quantidade de inseticida que atinge o inseto, sempre favorece os insetos ou as fases mais tolerantes. Possivelmente, a sucessão desses eventos tenha contribuído para, ao longo dos últimos anos, permitir, o aumento da população das espécies mais tolerantes aos inseticidas (Plusinae e Spodoptera spp.). A sobrevivência de lagartas desses dois grupos demanda outras aplicações que acabam por pressionar ainda mais a espécie mais suscetível às doses utilizadas e, portanto, contribuem para a redução da proporção de lagarta-da-soja (menos tolerante a inseticidas) no total de lagartas.
Ilha de Baslas-MA